Assim como na Primeira Revolução Industrial, o trabalho humano não vai acabar (pelo menos por enquanto), mas vai passar por uma grande transformação, e quem não se adaptar a isso vai ficar sem espaço no mercado.
Para o administrador, a pergunta não é se o trabalho de back-office (mais operacional) será automatizado, mas o que ele fará quando a IA assumir o domínio das planilhas e dos relatórios.
Quando as primeiras máquinas surgiram entre os séculos XVIII e XIX, os trabalhos que antes eram principalmente manuais passaram por uma transformação que deixou muitos trabalhadores preocupados com a sua própria subsistência.
Se as máquinas fossem tão ágeis e poderiam oferecer soluções para tantas pessoas em tão pouco tempo, como que esses trabalhadores iriam sustentar suas famílias? Como iriam continuar trabalhando num mundo em que essa nova tecnologia seria “melhor que eles”?
Por um lado, as máquinas de fato fizeram com que muitas pessoas perdessem seu emprego, pois aquele “setor” já estava com uma nova forma de entregar mais produtos/serviços para mais pessoas por um preço competitivo.
Ao mesmo tempo, novos postos de trabalho foram criados nas novas fábricas, pois alguém teria que operar essas máquinas e atuar em algumas partes do processo industrial.
E o mais importante para o nosso tema: o crescimento dessas fábricas e a complexidade das novas linhas de produção fizeram nascer a necessidade de uma gestão mais eficaz. A demanda por novos sistemas, processos, logística e organização (ou seja, a Administração como conhecemos) explodiu.
Não podemos ser inocentes de achar que esse processo foi equilibrado e que todo mundo que foi “substituído” pelas máquinas conseguiram uma recolocação tão simples no mercado, e ainda sim este é um bom exemplo de como as coisas mudam o tempo todo, e que essa não é uma novidade dos tempos contemporâneos.
Depois de séculos de transformações no trabalho (pois a coisa não parou na Primeira Revolução Industrial), chegamos a mais um ponto importante da história da humanidade: a chegada (não mais tão recente) da Inteligência Artificial.
Qualquer pessoa com um celular conectado à internet consegue ter acesso a vários modelos de IA no mercado, e pode usá-las para os mais variados fins que nem conseguimos imaginar. E é claro que as empresas viram um grande potencial nisso.
Imagino que eu não preciso contextualizar ainda mais esse cenários, pois não é tão difícil se deparar com discussões sobre A IA vai escrever o meu Planejamento Estratégico? O algoritmo vai decidir a alocação de recursos? A máquina vai fazer a gestão de estoque e o pedido de compra?
Em outras palavras: se a IA faz praticamente tudo o que aprendi na faculdade, o que sobra para nós, administradores, fazermos?
Eu não tenho uma bola de cristal, mas tenho alguns apontamentos sobre todo esse barulho que surgiu nos últimos anos, e é claro que eu vou trazer alguns dados à respeito.
Quando pesquisamos sobre o futuro dos administradores, vemos que sim, aquelas tarefas mais repetitivas vão ficar muito mais fáceis de serem feitas com IA, e a tendência é de que cada vez mais as funções operacionais que temos hoje sejam feitas por um “robô”.
Vou repetir:
A tendência é de que cada vez mais as funções operacionais que temos hoje sejam feitas por um “robô”.
Assim como todas as outras revoluções industriais trouxeram novos postos de trabalhos para todos os níveis de uma organização (estratégico, tático e operacional), essa nova revolução que estamos vivenciando vai trazer cargos que ainda nem imaginamos.
Você imaginava que hoje teríamos pessoas que trabalham com criação de prompts para IA?
O que vai acontecer de agora em diante é justamente o que eu quis passar com o exemplo histórico no início desse artigo: o trabalho irá se transformar. A parte que eu ainda não tinha mencionado é que hoje nós temos mais facilidades para não ficar ultrapassado.
Você provavelmente está lendo isso através do seu celular, tablet ou computador conectados à internet, logo, você tem acesso ao mundo de informação que é a internet, e consegue buscar conteúdos para se atualizar e aprender sobre o que se passa no planeta Terra.
Entendeu aonde quero chegar?
Você pode buscar conhecimento sobre as novas tendências de mercado e se preparar para isso, pode pesquisar como a IA vai afetar seu trabalho, seus estudos, e já começar a se preparar para esse futuro, porque novas formas de trabalhos irão surgir e outras serão apenas “atualizadas”.
Além de buscar informações regularmente sobre as novas tendências de mercado, aqui estão algumas coisas que você pode começar a desenvolver para se preparar para o futuro:
Domine a “arte do prompt": a inteligência artificial sabe fazer muitas coisas, mas você precisa saber o que perguntar e como perguntar para ela, e tão importante quanto, saber interpretar o resultado. Isso nos leva ao próximo ponto:
Desenvolva o pensamento crítico: a IA processa dados rapidamente, mas quem decide se a decisão é boa para o negócio é você. Questione o resultado do algoritmo. Acreditar cegamente no "relatório do robô" pode não ser uma boa ideia.
Desenvolva habilidades não-automatizáveis: liderança, negociação (o robô não tem empatia), ética, gestão de conflitos, etc. O fator humano é o seu diferencial mais competitivo (e não é papo clichê, é a realidade).
Busque a visão estratégica: Se as tarefas operacionais sumirem, o administrador precisa subir um degrau. Entenda o porquê das ferramentas, dos processos, dos relatórios da organização… você é quem vai olhar para essas coisas e decidir o que fazer com elas.
Seja um curioso metódico: já falei algumas vezes sobre buscar informação, mas não se perca no mar de tendências. Escolha uma área (logística, finanças, marketing) e aprofunde o conhecimento sobre como a IA está transformando essa área em específico.
Cultive a adaptabilidade: a única certeza que temos é que a ferramenta de hoje poderá ser substituída amanhã, logo, o foco não deve estar em dominar o software X, mas em aprender a aprender (e desaprender) rapidamente sobre qualquer software (e qualquer outra coisa que precisar).
Então, depois de tudo isso, voltamos à pergunta do título: ainda tem espaço para o administrador?
Sim, tem. Mas não para o administrador que repete processos cegamente ou que gasta 80% do seu tempo preenchendo relatórios. A lição que a história nos dá (desde a Primeira Revolução Industrial) é que a tecnologia sempre criou novos desafios que, por sua vez, exigem mais gestão, mais estratégia e, acima de tudo, mais fator humano.
O que nos resta é uma escolha: você pode passar os próximos anos apenas aprendendo a apertar o botão certo nas novas ferramentas, ou você pode investir nas habilidades que a inteligência artificial dificilmente terá: o pensamento crítico para questionar o algoritmo, a liderança para inspirar um time, a empatia para negociar um conflito ético…
O que vai realmente determinar seu futuro é a sua capacidade de se adaptar, de olhar para essas tecnologias e de ser o estrategista que utiliza elas para impulsionar seus resultados.
A IA é inevitável, mas a obsolescência do profissional de administração não é.