Vamos ser honestos: a palavra "chefe" virou quase um palavrão no mundo corporativo. De um lado, temos esse vilão quase demoníaco; do outro, o líder, o herói que todos deveriam ser. A gente ouve tanto essa história que talvez tenha se apressado em julgar, como se um não devesse mais existir em detrimento do outro.
Basicamente, o chefe seria a figura que só vê números, tarefas e que trata as pessoas como se fossem peças de uma máquina. Já o líder seria mais humanista e enxerga talentos, inspira com seu exemplo, e o mais importante: ele sabe lidar com outros seres humanos.
Ficou clara a diferença? E a sensação de que essa visão pode ser um estereótipo, você também pensou nisso?
É óbvio que não dá pra colocar pessoas em caixinhas, dizendo o que elas são ou deixam de ser. Cada gestor tem sua própria forma de trabalhar e pode ter características desses dois lados.
Então, a questão mais importante é: para além dos rótulos, o que realmente diferencia um bom gestor de um mau gestor, na prática? E o mais importante: como a gente se torna um bom gestor que sabe liderar as pessoas?
Essa figura que as pessoas chamam de chefe é associada aos padrões mais “antigos” de gestão, quando ainda não existia uma preocupação tão grande com a cultura organizacional, a qualidade física do ambiente de trabalho, a saúde mental dos trabalhadores…
Todas essas coisas parecem loucura se comparado com os dias de hoje em que já existem tantos relatos e pesquisas a respeito da importância de tudo isso.
Mas é claro que ainda existem gestores que não dão a devida importância para essas coisas (ou parte delas), principalmente quando estamos falando de organizações de pequeno porte (mas eles existem em empresas de todos os tamanhos).
Assim, os gestores tendem a ter um perfil mais “conservador” quanto a sua forma de cuidar dos negócios, que é o jeito que tem funcionado ao longo do tempo onde as coisas acontecem de forma mais simples, com tarefas bem definidas, uma rotina mais previsível.
Isso parece um problema?
O problema de um administrador assim é o passar do tempo. Como você imagina essa pessoa lidando com as novas ferramentas tecnológicas, marketing digital e redes sociais?
Nem todo mundo gosta de mudanças, e não saber lidar direito com elas pode fazer alguém assim ficar bem resistênte à tudo isso e a quem tentar fazer essa mudança (se você já tentou inovar em uma empresa pequena, talvez saiba o que é isso).
É claro que existem administradores que estão mais abertos para o que vem acontecendo e estão dispostos a mudar o que for necessário para que sua empresa continue existindo, e mesmo assim, o ritmo acelerado das mudanças pode incomodar.
Também existem pessoas que ainda não aprenderam a lidar com uma equipe de trabalhadores e não os tratam com o devido respeito. Infelizmente o “chefe” pode ser a própria personalidade da pessoa (e nesse caso, vale evitar permanecer em um ambiente assim.).
Portanto, o mau gestor é aquele que não entendeu que o mundo gira e que nenhuma organização sobrevive sem se atualizar e sem as pessoas que fazem essa atualização acontecer.
Querer fazer tudo sozinho, tratando as pessoas como descartáveis, é uma receita certa para o fracasso.
Tem muitas coisas boas que partem da educação, e isso vale principalmente para as pessoas que sabem lidar com outras pessoas.
O bom gestor aprende em algum momento que as organizações são feitas de pessoas para pessoas, e que isso requer lidar com a complexidade humana (ser emocional também é uma competência).
Mas é claro que também envolve o conhecimento da organização como uma construção social que precisa de administração para continuar de pé. E, justamente por ser parte da sociedade, precisa acompanhar as transformações que acontecem nela.
Lidar com a sociedade é lidar com a evolução dela, porque é para ela que a organização existe, e é nela que estão as pessoas que vão consumir seus produtos/serviços.
Isso envolve flexibilidade e disposição para aprender e reaprender o tempo todo.
Se a organização precisa de pessoas, então o gestor precisa cuidar dessas em certa medida, não é?
Esse é um dos motivos para a palavra “liderança" ser usada com esse tipo de administrador: não é que ele vai ficar sendo a mãe ou o pai dos colaboradores, mas vai ficar atento ao que se passa com eles no trabalho e vai se preocupar em manter todos bem.
Pessoas satisfeitas trabalham melhor, produzem mais e permanecem por mais tempo. Isso é bom para ela e bom para a organização, e essa, por sua vez, precisa administrar bem para que as coisas continuem indo bem, mesmo quando as coisas ao redor não estiverem colaborando com isso.
Talvez você já tenha visto um “líder” excelente em decisões estratégicas, mas péssimo com o time. Assim como deve ter visto um “chefe” que usa o mínimo de tecnologia, e mesmo assim as pessoas adoram trabalhar com ele (e o negócio prospera).
Como eu disse no início: não dá para colocar as pessoas em caixinhas e definir o que elas são. O que podemos fazer é tentar entender o que faz um gestor ser eficaz.
É muito provável que, no seu estágio ou no seu primeiro emprego, você não tenha a sorte de começar com um gestor que seja um "líder" inspirador. A chance de você topar com um "chefe" sobrecarregado e com pouca flexibilidade é bem maior (infelizmente).
Se isso acontecer mesmo, sua primeira reação pode ser bater de frente ou se frustrar (evite fazer as duas).
Entenda que sua missão ali não é mudá-lo (até porque você provavelmente não vai). Sua missão é aprender. Portanto, use ele ou ela como um estudo de caso, observando o que faz que desencoraja a equipe e anote mentalmente o que você faria de diferente.
(Dica: se for anotar em papel ou celular, faça isso fora do ambiente de trabalho — experiência própria.)
O mau gestor é, talvez, o professor mais valioso que você terá sobre o que não fazer. Enquanto isso, entregue seu trabalho da melhor forma que puder, porque gestores desse perfil costumam respeitar quem entrega resultados.
Se você tiver a sorte de encontrar o "líder" (o bom gestor): Não seja passivo nem fique só aproveitando o bom ambiente.
Observe como ele dá feedback, como lida com a pressão da diretoria, como toma decisões difíceis, como mantém o time unido…, observe sua forma de trabalhar.
Bons gestores não são “bonzinhos”, são eficazes.
Aproxime-se dessa pessoa e aprenda tudo o que puder, porque ela está te dando uma aula prática de gestão. (Mas, por favor, sem ser grudento.)
Se você chegou até aqui, já entendeu: a diferença entre o bom e o mau gestor não está no título.
A diferença está em duas palavras: flexibilidade e autoconsciência.
O mau gestor é rígido, acha que já sabe tudo e que seu método é o único (senão o melhor). Ele parou de aprender e ficou preso no próprio modelo mental.
Enquanto isso, o bom gestor é flexível. Entendeu que o mundo gira, que as organizações são feitas de gente e que tudo muda o tempo todo.
Portanto, o caminho para se tornar um bom gestor é:
Escolher aprender sempre: sobre tecnologia, mercado, e principalmente, sobre pessoas.
Escolher ouvir: seus colegas, sua equipe, seus clientes…, o bom gestor sabe que precisa fazer perguntas ao invés de só dar ordens.
Escolher ser humano: lembrar que, do outro lado da mesa, existe uma pessoa com problemas, sonhos e potencial (exatamente como você).
O seu dever enquanto gestor ou futuro gestor é observar o mundo ao seu redor e começar a construir o seu próprio modelo de gestão que seja eficaz, adaptável e, acima de tudo, humano.
Tente equilibrar o racional de um chefe com o humano de um líder, isso exige consciência constante, mas pode trazer bons resultados para você.