Resumindo em poucas palavras, saímos de uma administração que era mais operacional no início, e agora, chegamos em um ponto em que a capacidade estratégica das lideranças nunca foi tão necessária para as empresas que desejam crescer.
Quando a nossa área foi regulamentada, em 1965, ainda havia um foco maior nas capacidades operacionais de unir pessoas para um propósito maior (o objetivo das organizações), coordenar essas pessoas enquanto monitorava o trabalho delas, os resultados desse esforço e fazer ajustes quando necessário.
É uma forma simplista de colocar os fatos, mas era basicamente isso que acontecia em um contexto em que as mídias em massa (rádio, televisão, jornais impressos) ainda estavam ganhando mais espaço na vida das pessoas, e estas não eram bombardeadas de informações como acontece hoje, pois ainda não existia internet.
Agora, nos dias de hoje, temos um mundo onde a internet faz parte da vida de uma maioria esmagadora de pessoas, fazendo com que as informações cheguem rapidamente, e isso, claro, afeta também a forma de consumir as coisas, e consequentemente, os hábitos diários das pessoas.
Isso tudo (e mais um pouco) também afeta o dia a dia das organizações, e ainda nem citei as ferramentas digitais que fazem um boa parte dos trabalhos repetitivos.
Então, como é administrar no mundo de hoje, e o que podemos esperar de tudo isso futuramente?
Se você acompanha notícias sobre o que as empresas esperam dos candidatos, já teve visto a palavra “soft skills”, que significa “habilidades comportamentais”.
Se eu tivesse que lhe dizer em poucas palavras o que é preciso para trabalhar em cargos de administradores atualmente, eu diria que você precisa desenvolver suas soft skills.
Essas habilidades comportamentais, de uma forma geral, são: liderança, comunicação, capacidade de resolver problemas, trabalho em equipe, adaptabilidade, etc. Todas elas são muito importantes para gerenciar qualquer coisa em um mundo onde tudo é muito rápido e muda muito rápido.
Muitas empresas têm buscado essas habilidades nos candidatos porque é isso que gera mais resultados.
E as “hard skills”?
Elas são as habilidades técnicas que, por sua vez, são mais “fáceis” de ensinar e aprender, ao contrário do comportamento e mentalidade das pessoas que é bem mais complicado de mudar (e não é uma boa ideia tentar mudar isso sem um bom motivo aparente).
Com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo no mundo, e essas informações chegando rapidamente até nós, administrar se tornou ainda mais importante e desafiador ao mesmo tempo, ainda mais que tudo parece estar interconectado de alguma forma.
Mas para o nosso alívio (e agonia de outros), a tecnologia também tem nos ajudado bastante nessa tarefa de gerenciar e filtrar as coisas que lidamos diariamente.
É difícil não citar as IAs, e o quanto ela é útil para simular cenários, facilitar a análise de dados, e nos ajudar com a busca por soluções cada vez mais eficazes para os problemas, coisas importantes na administração, não acha?
Fora outras ferramentas que também já facilitam muitas coisas sem nem usar IA dentro delas (conhece um tal de “checklist”?).
Então, o que sobra para o administrador fazer? As IAs vão dominar tudo?
Eu ficaria surpreso se algum dia o administrador não fosse mais necessário, porque é ele quem organiza as coisas para que elas se tornem sustentáveis à longo prazo, inclusive essas ferramentas digitais que citei são feitas por empresas que possuem gestores, e as outras que também utilizam elas têm gestores também.
Na sociedade, temos as lideranças formais e informais que mantêm as coisas “no lugar”, porque as máquinas não possuem essa capacidade, e mesmo que algum dia elas consigam, ainda sim o ser humano continuará sendo ser humano.
As pessoas continuarão precisando de líderes humanos para administrar suas habilidades e emoções para um propósito maior.
O administrador de verdade é aquele que lida com a parte estratégica, criativa, emocional, a parte de extrair o melhor das pessoas à sua volta.
Como bem pontua o professor Idalberto Chiavenato, “as pessoas são o principal ativo das empresas", e é o ser humano quem realmente gera resultados.
E mesmo com tanta tecnologia, o administrador é quem toma a decisão final, o que vai ser feito, como será feito, por quem e por quanto será feito, e isso nenhuma máquina é capaz de fazer, não se tiver pessoas envolvidas no processo, porque só a gente entende de gente.
É clichê ficar dizendo que podemos esperar “mais tecnologia e automação nos processos administrativos”? Porque eu acho que isso é o tipo de coisa que “só não vê que não quer”.
É claro que as IAs vão continuar evoluindo e facilitando muitas coisas. Elas também vão substituir algumas vagas de emprego, e com isso vão surgir outros tipos de vagas que ainda nem podemos imaginar.
E nisso o administrador vai se tornar ainda mais estratégico para saber lidar com essas facilidades e, a parte importante: usá-las de um jeito que possibilita melhores resultados nas organizações (porque nenhuma tecnologia por si só gera resultados).
E apesar de toda essa tecnologia que está vindo, ainda vão existir pessoas nas empresas, e essas pessoas precisarão ser lideradas por um ser humano que tenha emoções e conheça os contextos sutís que envolve lidar com pessoas.
E outra coisa que não vejo ser muito citada por aí: as empresas continuarão precisando de líderes com um “sexto sentido” apurado nos momentos de urgência, porque nem sempre teremos dados suficientes para tomar uma decisão rápida.
Agora, mais do que nunca, administrar é sinônimo de manter as coisas no lugar apesar do caos.
A pessoa que decide seguir nessa área tem que saber aprender e reaprender o tempo todo, porque as coisas mudam e vão continuar mudando, e as organizações vão ter que acompanhar essas mudanças.
As equipes de trabalho vão continuar precisando de líderes humanos para nortear suas rotinas dentro ou fora das empresas (alô galera do home office).
As pessoas vão continuar precisando de alguém para organizar as metas de seus trabalhos, e também guiar seus talentos para que sejam utilizados na geração de novas soluções para os novos problemas que vão surgir.
As organizações, públicas e privadas, continuarão sendo feitas de pessoas para pessoas, e isso requer um administrador capacitado para fazer as coisas acontecerem de forma eficiente e eficaz.
O futuro da Administração, como ensina Chiavenato, não está em dominar a tecnologia, mas sim em dominar a arte de lidar com o que há de mais imprevisível e valioso em qualquer empresa: o talento e a emoção de cada pessoa.