No momento em que escrevo este artigo, estou cursando a penúltima semana do curso de administração, e a partir desses 4 anos de graduação, quero compartilhar o que eu aprendi, não sobre os conteúdos em si, mas o que é estar nessa fase de estudante.
Consegui tirar 568 pontos na média do ENEM de 2021 e disputei a única vaga de administração EAD na universidade que eu queria (e que era próxima de casa), e depois de algumas semanas de espera, em fevereiro de 2022, consegui oficialmente a bolsa integral para cursar minha primeira graduação na UniCesumar.
A escolha da universidade se deu por vários motivos de pesquisa, distância, mas acima de tudo: era a universidade azul mais próxima da minha casa (sim, o meu primeiro requisito era a cor azul. Não é à toa que a marca do Decifra ADM também é assim).
Quando estamos prestes a começar uma etapa que muda a vida, a gente oscila entre o medo do desconhecido e a empolgação das oportunidades. Eu decidi focar na empolgação. Só não contava que, por ser um curso EAD, o buraco seria mais embaixo.
Assim que as aulas foram liberadas, fui com sede ao pote. Queria ver todas as videoaulas, ler o livro todo, baixar os materiais extras, ler artigos científicos... aquela empolgação do início de curso.
Por mais que eu quisesse fazer tudo de uma vez, tinha que conciliar a vontade de estudar com os prazos das atividades, das aulas ao vivo, e como eu tinha uma vida além disso, tinha que conciliar com pequenos trabalhos digitais que fazia (na época eu fazia renda extra vendendo artes no Canva).
Só que, além disso, eu ainda tinha um outro problema: não havia um espaço em casa dedicado para estudar, e eu não tinha um computador em casa. Até tinha um notebook, mas ele parou de funcionar 6 meses antes do curso. Por conta disso, tive que estudar através do meu celular.
Claro, eu podia usar os computadores do polo da faculdade. O problema é que o polo ficava a 150 km de distância da minha casa, à duas horas de carro até lá. Simplesmente inviável.
Então, fiz o que todo bom administrador aprende na marra: trabalhei com os recursos que tinha.
É legal ter um espaço só seu para estudar, post-its coloridos e um notebook decente? Com certeza. Mas é perfeitamente possível se formar estudando pelo celular. Se esse foi o jeito mais confortável? Não foi, mas foi o jeito que funcionou nos primeiros 3 anos da minha graduação.
Ainda no primeiro ano, com o passar das disciplinas, fui percebendo que a coisa passava longe de ser as mil maravilhas que eu pensei que fossem.
É incrível fazer um curso de algo que gosta, mas isso não significa que não vai ter vários momentos em que você vai se perguntar se realmente gosta daquela área.
Não fui muito amante das disciplinas de direito, de matemática financeira (mesmo gostando da matemática da escola), e não gostei que eu teria que estudar por muito mais tempo do que gostaria para aprender bem.
Claro que não precisamos virar noites o tempo todo, nem precisamos decorar tudo que está nos livros, mas precisamos, pelo menos (e falo especificamente do curso de administração), entender como que os processos funcionam.
Para você que quer fazer este curso ou já está nele, foque em aprender os processos, nas etapas que fazem parte dele, os impactos nas outras áreas (ou seja, as disciplinas que estudamos), se preocupe com os impactos nas pessoas que trabalham na empresa e nos clientes também.
Eu não consegui ler todos os livros até o final. Na verdade, eu conto nos dedos a quantidade de livros do curso que eu li por completo até a escrita deste artigo, E mesmo que parte desse conhecimento técnico me faça falta, aprendi a pensar mais sobre os processos e nos impactos deles.
Administração é sobre processos e os impactos de cada um deles nas pessoas, e para entender os processos, você precisa conhecer bem o funcionamento deles, e as ferramentas (Matriz SWOT, 5W2H, etc.) vão ajudar nisso, mas podem ser aprendidas com o passar do tempo.
Se o primeiro ano foi sobre descobrir como estudar, o segundo foi sobre descobrir como sobreviver.
Foi aqui que as disciplinas ficaram mais técnicas (e mais pesadas), e foi aqui também que a vida adulta bateu na porta: comecei a trabalhar fora, e conciliar isso com a universidade (foi um trabalho de 5 meses, mas foi tempo suficiente).
A rotina de estudar no conforto de casa, no horário que eu queria, foi substituída pela realidade da maioria dos brasileiros: chegar cansado, com a cabeça cheia, e ainda ter que encarar uma aula densa numa tela de 6 polegadas.
Lembra que eu disse que estudava pelo celular? No primeiro ano, isso era uma "conquista", aquela coisa da superação. No segundo ano, isso virou uma tortura.
Eu sentia raiva, tristeza, desamparo, me sentia limitado. Ver tabelas complexas no celular enquanto tentava conciliar trabalho e estudo me fez questionar várias vezes se valia a pena continuar assim. Às vezes eu até sentia vergonha de ver outros alunos com o “mínimo” para estudar, e eu ali no meio, sem ter essas coisas.
E vou ser bem sincero com você: não foram poucas as vezes que eu desabei, chorei de raiva, de cansaço, de dúvida. Às vezes eu até olhava para a minha cidade e pensava: “Será que esse diploma vai valer alguma coisa aqui?”, “Será que tem emprego pra um administrador aqui ou só perdendo tempo e dinheiro?”.
A ideia era me mudar de cidade, mas até lá, eu tinha que conseguir alguma coisa onde eu moro. Juntando tudo isso com a sensação de que eu não estava aprendendo nada direito, tive vários momentos em que eu quase tranquei o curso.
Muitos desistem nessa fase. É a fase onde o EAD deixa de ser novidade e vira rotina, uma rotina que vem com altos e baixos. Mas eu já era um estudante de administração, e nesses altos e baixos, mesmo sem querer, passei a aprender sobre gestão de crise, de recursos (que no meu caso está bem escassos), gestão de tempo, logística, e outras áreas.
Algo mudou na metade do curso. Talvez fosse o costume, ou talvez fosse a aceitação de que reclamar não resolve nada.
De certo é que parei de lutar contra a minha realidade (o celular, o cansaço) e comecei a jogar o jogo conforme as cartas que eu tinha (guardei essa analogia há muito tempo). Foi o ano em que me tornei um "aluno ativo".
Percebi que o EAD só é solitário se você permitir, logo, comecei a caçar eventos online, palestras, semanas acadêmicas (mesmo as que não eram da minha faculdade), e a acompanhar mais o que se passava de mais atual na administração.
Comecei a interagir (de verdade) nos chats, não só para marcar presença, mas para debater, fazer mais perguntas para o professor, mesmo que algumas soassem ridículas, mas a coisa só ficaria ali mesmo na aula, então estava tudo bem.
*Agradeço à todos os meus professores por terem me aguentado ao longo desses anos, ainda quero fazer mais perguntas em outras oportunidades!
Foi nesse período que a ficha caiu: a faculdade não acontece na plataforma da universidade. Ela acontece na sua busca ativa (aquela coisa de “ser o protagonista da sua própria história”).
Aprender a estudar sozinho me deu uma autonomia que nenhum aluno que "só participa das aulas" conseguiu. Eu aprendi a pesquisar, a filtrar e a conectar pontos, e depois também fui melhorando a qualidade das minhas perguntas nas aulas.
O celular ainda era minha ferramenta, mas meu cérebro já estava operando em outra frequência.
E todas essas participações em sala de aula (mesmo que virtual) e nos eventos renderam muitas oportunidades que até hoje estou colhendo (mas não quero dizer que estou ganhando rios de dinheiro, não me entenda mal).
Chegamos ao último ano, e olha a “ironia” do destino.
Foi só na reta final, entre o terceiro e o quarto ano, depois de muito esforço, que consegui montar o meu espaço.
Comprei um notebook, consegui uma mesa só minha, um suporte para o notebook, teclado gamer, mouse, mousepad (tudo com LED), materiais coloridos e todo o conforto que sonhei lá em 2022.
Mas sabe o que é mais curioso? Eu me tornei um bom estudante antes mesmo de ter tudo isso. As notas boas, a participação nos eventos, a criação do Decifra ADM, a visão crítica... tudo isso foi construído na telinha do celular, estudando em lugares improvisados.
O notebook novo não me fez mais inteligente, ele só trouxe conforto para as competências que eu já tinha construído até então.
Se você está pensando em fazer administração (EAD ou presencial), saiba que a faculdade não vai te entregar nada de bandeja. Você vai ter matérias chatas, vai ter momentos de querer largar tudo, vai achar que está perdendo tempo lendo teoria velha, vai ficar pensando se vale a pena continuar ou não…
Mas se você persistir, não pelo diploma, mas pela construção da sua mentalidade, você sai do outro lado diferente. Você sai entendendo que o mundo é um grande processo bagunçado esperando alguém com a visão certa para organizá-lo.
Eu entrei querendo respostas, saio com mais perguntas. Entrei querendo ser um CEO, saio sendo um gestor da minha própria realidade.
Claro que este foi o meu caso, e não significa que será o seu. O que eu quero que você entenda com toda essa história é que não é fácil cursar uma graduação, e que esse esforço pode ser muito recompensador se você puder chegar ao final.
Talvez você não consiga iniciar um curso agora, talvez você não tenha tudo que queria para começar, mas se você quiser e puder fazer, pode sair uma pessoa muito diferente e melhor do que antes do curso, e com mais oportunidades à sua disposição.
Conclusão?
Se você quer facilidade, não faça. Se você quer respostas prontas, não faça.
Mas se você quer aprender a se virar com o que tem (como eu fiz na maior parte do curso) e a organizar o caos... bem-vindo ao clube!